sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Vila Maria Zélia

 Construída em 1917 e berço da industrialização de São Paulo, a Vila Maria Zélia situada no bairro do Belenzinho é constituida de 200 casas e mais de 600 habitantes. Sua arquitetura apresenta casarões, armazéns e colégios no ínicio do séc. XX.
  Tive a oportunidade de ter duas visões com ponto de partida, uma como análise de campo sem conceitos pré-estabelecidos, nos permitindo ser influenciados pelas sensações reais captadas pela vila, pela história narrada pelos moradores existentes nela há mais de 70 anos e suas necessidades, assim como aspectos visuais, de conforto, dos prédios abandonados a a própria tranqüilidade e segurança quase que provinciana perdida em meio a grande metrópole, em nossa visita a Vila Maria Zélia. O segundo ponto seria com o próprio levantamento histórico sobre a área. Como surgiu, a importância na formação da cidade de São Paulo e suas modificações. Evitando que o projeto de intervenção descaracterize a Vila tanto para os moradores quanto como contexto histórico para a cidade de São Paulo.



Vista da rua Mario Costa, na sequência três entre os principais prédios da Vila em ruínas: o antigo restaurante, a igreja e o armazém. Ambos tombados pelo CONDEPHAAT e CONPRESP como Patrimônio Histórico Cultural. A igreja é o único prédio ainda conservado.. (Foto recente 2010 e em 1918)
 






Percorrendo a Vila Maria Zélia temos a sensação de estarmos muito longe do barulho e agitação de São Paulo. Mais que um sonho e um local pacato esquecida no meio da cidade, o bairro Vila Maria Zélia proporciona identidade de memória , na medida em que impede o esquecimento da situação da classe operária em São Paulo além de repensarmos a luta dos trabalhadores, na conquista de seus direitos e a situação da moradia e da segregação entre os bairros ainda hoje.




 Na foto acima o antigo casarão que abrigava o restaurante, sapataria e no segundo andar o salão de bailes da Vila. Hoje as paredes externas foram tudo o que restou do antigo prédio.

Contexto Histórico
O período de Vargas (1930-1954) trata-se do momento em que o Estado brasileiro passa a intervir tanto no processo de produção como no mercado de aluguel, abandonando a postura de deixar a questão da construção, comercialização, financiamento e locação habitacional às «livres forças do mercado», que vigorou até então. Esta nova postura do Estado brasileiro na questão da habitação é parte integrante da estratégia muito mais ampla, colocada em prática pelo governo Vargas, de impulsionar a formação e fortalecimento de uma sociedade de cunho urbano-industrial,capitalista, mediante uma forte intervenção estatal em todos os âmbitos da atividade econômica (Oliveira, 1971).

    São Paulo, sobretudo, sediando a economia cafeeira e recebendo um fluxo imigratório intenso (a população da cidade cresceu de 40 000 habitantes em 1886 para 260 000 em 1900 e 580 000 em 1920), apresentava um superdinâmico processo imobiliário, com forte expansão urbana e uma hipervalorização de glebas, terrenos e prédios. Em poucos anos, chácaras de características eminentemente rurais eram loteadas e transformadas em zona urbana, fortemente ocupada. Assim, além da rentabilidade da locação habitacional, o investimento imobiliário garantia não só uma reserva de valor, como um intenso processo de valorização (Bonduki, 1982). É neste contexto que se inseria a intensa produção habitacional realizada pela iniciativa privada para locação. Em São Paulo, em 1920, apenas 19% dos prédios eram habitados pelos seus proprietários, predominando largamente o aluguel como forma básica de acesso a moradia (Bonduki 1982). Considerando-se que boa parte dos prédios ocupados pelos trabalhadores de baixa renda eram cortiços e, portanto, ocupados por mais de uma família, conclui-se que quase 90% da população da cidade, incluindo quase a totalidade dos trabalhadores e da classe média, era inquilina, inexistindo qualquer mecanismo de financiamento para aquisição da casa própria.
    Desta forma, uma espécie de «rentiers urbanos» pôde produzir uma ampla diversidade de soluções habitacionais de aluguel para os diferentes segmentos sociais
e faixas de renda, dando origem a uma gama variada de tipologias que marcaram a paisagem da cidade nas primeiras décadas do século, quando a moradia operária se localizava próxima à zona industrial.

    Surgem, assim, inúmeras soluções habitacionais, a maior parte das quais buscando economizar terrenos e materiais através da geminação e da inexistência de recuos frontais e laterais, cada qual destinado a uma capacidade de pagamento do aluguel: do cortiço, moradia operária por excelência, sequência de pequenas moradias ou cômodos insalubres ao longo de um corredor, sem instalações hidráulicas, aos palacetes padronizados produzidos em série para uma classe média que se enriquecia, passando por soluções pobres mas decentes de casas geminadas em vilas ou ruas particulares que perfuravam quarteirões para aumentar o aproveitamento de um solo caro e disputado pela intensa especulação imobiliária.
    A visão presente neste relatório, que aponta no sentido de se conceder favores à iniciativa privada, para que ela possa produzir moradias mais baratas e, portanto, a aluguéis mais baixos, é a predominante em todo o país. «O governo não deve produzir casas para os operários mas estimular os particulares a investirem» é a lógica que orienta, de modo geral, o Estado liberal da República Velha. E a solução tida como a ideal, tendo recebido inúmeros incentivos do poder público, é a promoção de vilas operárias pelos próprios industriais para servirem de moradia a seus empregados.
    As vilas operárias eram conjuntos de casas construídas pelas indústrias para serem alugadas a baixos aluguéis ou mesmo oferecidas gratuitamente a seus operários. Estas iniciativas tiveram um impacto importante em várias cidades brasileiras, pois são os primeiros empreendimentos habitacionais de grande porte construídos no país.
    Vinculadas à emergência do trabalho livre no país, grande parte das vilas operárias surgem em decorrência da necessidade de as empresas fixarem seus operários nas imediações das suas instalações, mantendo-os sob seu controle político e ideológico e criando um mercado de trabalho cativo.

    A tendência do Estado e da elite dominante durante a República Velha sempre foi considerar as vilas operárias como uma iniciativa modelar a ser estimulada, pois garantia condições dignas de moradia, superando a insalubridade dos cortiços, sem exigir a intervenção do poder público, e, ainda, proporcionando um controle ideológico, político e moral aos trabalhadores, muito bem visto frente ao sempre presente temor de uma revolta operária (Rago, 1985). A Vila Maria Zélia, em São Paulo, é o modelo mais acabado deste processo de tutela do empresariado sobre o operário. Localizada ao lado da fábrica, a Vila Maria Zélia contava com escola, creche, igreja, armazém e salão de recreação, além, obviamente, das moradias, permitindo um controle absoluto do tempo livre dos operários e suas famílias. Vila exemplar em termos da qualidade habitacional, ela realizava a utopia empresarial do controle total dos trabalhadores, sendo saudada
pelo poder público como um modelo a ser reproduzido (Rolnik, 1981).
    No entanto, vilas como a Maria Zélia são raras exceções. Foram poucas as empresas que construíram vilas modelares e alugaram moradias decentes a preços reduzidos.   
     Predominaram empresas que edificaram moradias apenas com o objetivo de manter trabalhadores indispensáveis próximos a elas, atendendo um número reduzido de seus empregados. As exceções serviram apenas como referências sobre uma idealidade impossível de ser alcançada. Muitos industriais agiam, na verdade, como qualquer outro investidor, que buscava rentabilizar seus capitais em um negócio altamente lucrativo como era o aluguel de casas. Esta era a lógica que presidia à construção da habitação popular na República Velha.

Trilhas Urbanas Parque da Luz`

  Dei ínicio a um curso rápido de Gestão Ambiental e Sustentabilidade paralelo ao meu curso de Arquitetura e Urbanismo, e além de acabar me apaixonando pelo tema descobri sem querer um programa bem legal que acaba de certa forma reunindo os dois temas num mesmo contexto.
 A Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de São Paulo criou o projeto `Trilhas Urbanas`, um grupo de monitoramento em educação ambiental abordando aspectos históricos, geográficos, da fauna e da flora, e culturais nos parques da cidade de São Paulo.









Já havia realizado um trabalho a respeito do parque para um projeto da faculdade há alguns anos atrás e o que mais me supreendeu com a qualidade do monitoramento de `Trilhas Urbanas`; além do engajamento da equipe em fornecer o máximo de informações possíveis socio-ambientais, históricas, geográficas e biológicas dentro de um contexto harmônico que inspira o expectador; foi a quantidade de informações ricas em detalhes que obtive num processo dinâmico abordando diferentes temas que se inter-relacionam entre si nos dando uma percepção real e abrangente sobre o parque e seu endorno!!

 Um passeio incrível que nos desperta o prazer de redescobrir o passado, de conscientização ambiental e amor a cidade de São Paulo!
 Os meus parabéns e agradecimentos a coordenadora Virginia Tristão e a equipe Trilhas Urbanas!

Vale a pena agendar uma trilha ou participar de um de seus eventos! Para obter mais informações acesse o site http://www.trilhasurbanas.pro.br/